quarta-feira, 22 de junho de 2011

Primeira Cruz / Travosa

Para quem gosta de conhecer lugares lindos, mas de acessibilidade complicada, estadia no estilo “dá-se um jeito”, comidinha super simples, porém deliciosa, e a viagem em si pode ser classificada como “uma aventura”, não pode deixar de visitar Travosa, povoado de Santo Amaro, nordeste do litoral maranhense.

Saímos de São Luís rumo a Humberto de Campos, onde deixamos o carro e pegamos um pequeno barco a motor, e viajamos por aproximadamente 1 hora e 10 minutos, por entre o que nos pareceu ser um gigantesco igarapé, até chegar na cidade de Primeira Cruz.

Alguns historiadores afirmam que os frades capuchinhos fincaram a primeira cruz em solo maranhense nessa região, antes mesmo da fundação de São Luís. Daí o nome da cidade, que compõe a microrregião dos Lençóis Maranhenses, e um de seus principais acessos.

A cidadezinha é uma graça, bucólica, parece que viajamos no tempo: cadeiras na calçada, todo mundo se conhece – tanto é verdade que, o auto-falante da praça, para nossa surpresa, estava "saudando os turistas", ou seja, nós, as únicas pessoas desconhecidas do lugar. Jovens e crianças nos rodeavam e observavam de longe, curiosos.

As pessoas podem dormir com as portas das casas abertas e o fazem muitas vezes, segundo D. Florzinha, proprietária do único hotel – na verdade, a sua própria casa. Os filhos foram estudar e/ou trabalhar em cidades maiores, e ela decidiu alugar os quartos, transformando a casa numa hospedaria bastante simples, mas acolhedora.

Ficamos em Primeira Cruz à espera da condução para Travosa – um trator que puxava uma carroça, onde viajaríamos. Tomamos uma cervejinha, andamos um pouco pela cidade, e depois do almoço partimos para nosso destino.

Durante quatro horas e meia viajamos pulando literalmente em cima da carroça lotada. Para completar a aventura um tanto desconfortável – claro, caso contrário não seria uma aventura – caiu uma chuva forte no meio do caminho. O motorista do trator deu uma paradinha rápida e jogou sobre nossas cabeças uma lona de plástico pra nos proteger. Aí ficou melhor ainda, pois nos segurávamos na carroça com uma das mãos, e a lona sobre a cabeça com a outra mão.

Por cortesia divina, a chuva não demorou muito. Retirada a lona, seguimos viagem completamente ensopados e com um pouco de frio. Ainda bem que carregamos sempre uma meiota de cachaça que foi providencial, e passou de boca em boca na carroça – tínhamos que ser solidários, não éramos os únicos com frio naquela situação. Além da pinga, dividimos nossa água, frutas e uns lanchinhos.

Fizemos amizade com todo mundo e em pouco tempo já estava quase rolando uma briga, a respeito de quem iria nos hospedar - Travosa não possui hospedaria. Explicamos que estávamos com nossa barraca e queríamos somente que indicassem o melhor lugar para acampar. Armamos nossa barraca na frente da casa do dono do trator, Hermínio, que morava na beira do rio, e que nos deixou usar a “casinha” no seu quintal.

Assim, passamos a Semana Santa em Travosa, um pequeno paraíso nos Lençóis Maranhenses que ainda não foi “descoberto” por turistas.


Dicas: em Humberto de Campos existe um estacionamento no terreno da Casa Mendes (a cidade é tão pequena que qualquer criança pode indicar a localização - fica em frente a uma praça). O proprietário,  Marcos Mendes, aluga transporte para o Periá e Lagoa do Cassó. Ambos são temas de outros artigos desse blog. E ambos valem a pena conhecer.

Em Primeira Cruz, hotel de D. Florzinha. Ao desembarcar, perguntar a direção do hotel pra qualquer pessoa - é o único e todos sabem onde fica.



Chegada em Primeira Cruz, depois de uma viagem em que a paisagem nos fazia esquecer o "poc poc" do motor da pequena embarcação, que poderia deixar qualquer um louco




Cirana e o barqueiro Francisco, que também tinha o sobrenome Sales, e ela cismou que podiam ser parentes


D. Florzinha em frente à sua hospedagem. Todos a conhecem por Florzinha por ter transformado a calçada em frente à sua casa num lindo jardim, embelezando a rua


Transporte para Travosa. Só existe linha durante uma semana por mês, quando os idosos se deslocam para receber suas aposentadorias. Fora desse período, somente se chega em Travosa de barco, que não possui dia nem horário fixos




Em 2004, todos aproveitavam o que eles chamavam de "viagem dos velhos"


E vamos nós, após o almoço, debaixo do sol de 1 da tarde - horário em que deixamos Primeira Cruz rumo a Travosa. Reclamamos do sol e São Pedro mandou chuva


Passamos por rios e alagados. O "cobrador" precisava colocar peso sobre o trator, que era leve na frente e pesado demais atrás



Essa foto resume os variados trechos pelos quais passamos - pastagens (primeiro plano), alagados, mata e muita areia fina (ao fundo)




Estamos chegando em Travosa, finalmente. As pessoas começam a descer pelo caminho



Enfim, o povoado Travosa. Aqui é o centro, com sua igrejinha.





Uma das poucas ruas (ou caminhos). À noite, quando saíamos para dar uma voltinha, sabíamos quais eram as duas únicas casas onde havia televisão - uma pequena multidão se amontoava nas portas e janelas, assistindo novela





Aqui seria uma espécie de avenida, pois interliga vários caminhos



Acampamos em frente à casa de Hermínio, dono do único trator, que nos deixou usar a "casinha" no quintal. À noite, ficávamos conversando com a vizinhança que vinha nos visitar, e outros vinham nos conhecer




A casa ficava em frente ao rio. Esta era a visão que tínhamos quando acordávamos

Caminho das lagoas e da praia com Igor, filho de Hermínio, que nos serviu de guia. A caminhada até a praia, após a "morraria", leva aproximadamente 1 hora





Córrego do Mundico, geladinho, excelente para se refrescar durante a caminhada





Vale a pena ou não vale?





Espetáculo da natureza. Conhecemos os Lençóis de ponta a ponta, e isso nós só vimos nessa região



Quem conhece a cidade de Natal vai lembrar. Viu só? Os maranhenses também têm um Morro do Careca - versão miniatura, claro. E as crianças aproveitam para brincar de esquibunda


Parecia o fim do mundo, pois não chegávamos nunca. Mas a praia de Travosa é maravilhosa e diferente de muitas outras. Somente água e dunas, sem nenhuma vegetação num raio de quilômetros. Como se fosse o "mar do deserto"

A volta de Travosa foi mais rápida, pois não havia chuva nem tantas paradas pelo caminho. Em compensação, ainda mais desconfortável, pois a carroça vinha praticamente vazia, portanto, pulando ainda mais. A certa altura Luiz ficou em pé, porque “não tinha mais bunda para permanecer sentado”. Chegamos à noite em Primeira Cruz. No dia seguinte fomos embora da "Terra Santa", cheios de saudade

8 comentários:

  1. Alo pessoal, estive por duas ocasiões em Travosa - em 1969 e em 1971 - naquela epoca trabalhava no Rio de Janeiro na Geophysical Service Incorporated, uma empresa americana especializada em exploração geofísica, quando ganhamos a concorrencia e fomos designados pela Petrobras a pesquisar a Bacia de Barreirinhas (lençois maranhenses) e nosso acampamento principal ficava justamente em Travosa. Para melhor orientação ele ficava nas imediaçoes do antigo cemiterio e aquela foto em que voce aparece com o Igor na biicicleta é justamente o antigo campo de pouso que ficava atras do acampamento. Ainda melembro de alçguns nomes tais como Antonio Zumba, Osmarina, Jairo, Gerson, Dodo(Sebastiana) minha antiga namorada que era filha de Dna. Mundica( Deve estar com 57 anos),
    Eu acho que na igreja de travosa em cima do altar ainda tem um grande terço de madeira que eu doei em 1969. Tem uma foto da "avenida" em que voçe aparece com uma garrafa termica, aquela casa com uma propaganda na pared era do Jairo e era tambem uma pequena mercearia.Gostaria que me enviasse mais fotos, pois tenho muitas saudades, e está nos meus planos fazer uma visita no ultimo paraiso brasileiro. Evangelista Caputo "Evans"

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    1. Gostaria de contactar com o meu irmão Evangelista Caputo, que trabalhou pela Petrobras, em Travosa, no período de 1969 à 1971, naquela época, eu estive em Travosa, passando férias escolares, em Travosa nessa época, tudo estava no auge, a Petrobras, com suas enormes caçambas com pneus enormes, causava admiração em todos. Antonio Paulo. 19.05.2013 E-Mail:apda58@hotmail.com

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  2. Ana Rosa, muito obrigada por sua atenção e informação. Se não fosse por você, até hoje estaríamos achando que Travosa pertencia a Primeira Cruz. Valeu mesmo. Beijão pra você.

    Postado por Luiz e Cirana no blog Expedições Sobre Rodas em 19 de junho de 2012 05:59

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  3. Dirijo-me ao meu irmão Evangelista Caputo "Evans", que trabalhou em Travosa, em 1969 e 1971, sou filho do Sr. "Antonio do Zumba"., o mesmo trabalhava na função de cozinheiro, tinha bons amigos na Empresa, eu me lembro do Sr. Ze Amaro, do Carioca. Na época fui passar férias na Travosa, eu tinha uns 14 anos, aquelas caçambas enormes causavam admiração em todos os moradores. Hoje o meu pai já faleceu. Fico muito admirado pela citação do nome dele, no site : http://expedicoessobrerodas.blogspot.com.br/2011/06/06primeira-cruz-travosa.html?sh - Eu imprimi a sua postagem e tenho mostrado para a minha mãe e meus irmãos, fico muito agradecido pela sua boa memória e recordações da nossa querida Travosa, que hoje, é Município de Santo Amaro do Maranhão, que faz parte do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. Via terrestre nos deslocamos de São Luís até a cidade de Barreirinhas - MA, no Povoado Sangue, segue-se de Toyota, até o povoado Travosa, hoje, já beneficiado com energia eletríca e Televisão, por antena parabólica. Venha fazer uma visita turística no Povoado Travosa, estamos lhe esperando de braços abertos para lhe recebercom toda hospitalidade. Meu E-Mail:apda58@hotmail.com ( Em, 02.10.13 4ª feira)

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  4. Antônio Paulo, enviamos ao Evangelista suas duas mensagens. Desta vez, pedimos confirmação de recebimento via facebook. Vamos aguardar o retorno. Mais uma vez obrigada por acessar nosso blog. Estamos honrados em poder fazer essa "ponte" entre vocês. Abraços.

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  5. Okey, Okey, Okey, Agradeço de coração, aos meus irmãos Luis Guilherme e Cirana, que são a principal fonte de contato e divulgação, via Web. Obrigado pela divulgação do nosso Povoado Travosa - Município de Santo Amaro - MA.
    Hoje, já em tempos modernos, a viagem é mais confortável. Não é mais de trator, o "Pula", "Poc, Poc"; Saimos de São Luís, em estrada de asfalto, boa, no sentido Barreirinhas-MA, descemos no Povoado Sangue, às margens da estrada de Barreirinhas - MA, e passamos para transporte de tração - 4 X 4, ai seguimos, via terrestre até o Povoado Travosa, parcece um sonho. Hoje, beneficiado com energia elétrica, telefone celular, com antena, e sinal de TV, via antena parabólica. Gostaria de contactar com o meu irmão: Evangelista, para ele visitar o Povoado Travosa, e hoje, ele vai ver a diferença, da época de 1969, quando ele trabalhou lá, pela Empresa contratada pela Petrobrás. Confirmo o recebimento e fico agradecido de coração pela divulgação da nossa querida Travosa. Todos nós moradores do Povoado Travosa, estamos aguardando uma outra visita dos nossos irmãos: Luis Guilherme e Cirana, autores deste maravilhoso Blog, desbravadores das belezas naturais deste nosso enorme Brasil." Povoado Travosa - Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses". Envio um abraço fraterno e amigo a todos. Até breve, se Deus quiser.!!!!!!!!

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  6. Travosa já tem pousada??

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    1. Ainda não.....Sou de S.Luis e vivo em S.Amaro, agora no feriado de 7 setembro estarei indo a Travosa.

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