sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Feira de Caruaru

Cantada em verso e prosa por inúmeros cantadores (inclusive Gonzagão), tema de inúmeros cordéis, e visitada por um sem número de pessoas vindas de inúmeros lugares do Brasil, a feira da cidade pernambucana de Caruaru é considerada a maior feira livre da América Latina.

A cidade de Caruaru, conhecida como "Capital do Agreste", "Capital do Forró", "Princesa do Agreste", dentre outros títulos, é considerada o maior pólo comercial da região. Cidade natal de personalidades como Mestre Vitalino, que projetou Caruaru para o mundo, Austregésilo de Athayde, dentre muitos outros escritores, artesãos, poetas e músicos, a cidade também é reconhecida como um celeiro de artistas. Diante disso, poderíamos até pensar que a feira de Caruaru é um reflexo do desenvolvimento econômico e sociocultural da cidade. Engana-se quem pensa assim. Na verdade, a cidade nasceu e se desenvolveu a partir da feira, que surgiu há mais de 200 anos.

E como se costuma dizer por lá: "aqui tem de tudo". E tem de tudo mesmo. São mais de 400.000 metros quadrados de comércio dos mais variados produtos. Tombada pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a Feira de Caruaru é, hoje, Patrimônio Imaterial Brasileiro.

São várias "feiras" contidas numa só: existe a Feira das Frutas e Verduras, a Feira das Raízes e Ervas Medicinais, a Feira do Troca-Troca (onde nada se vende, tudo se troca após muita pechincha - achamos que só existia em Teresina), a Feira de Flores e Plantas Ornamentais, a Feira do Couro, a Feira de Confecções Populares / Feira de Roupas, a feira de Bolos, Goma e Doces, a Feira de Ferragens, a Feira das Galinhas, a Feira do Fumo, a Feira dos Importados, a Feira do Artesanato, a Feira da Sulanca e a Feira do Gado.

Cegos tocam sanfona, violeiros e cantadores lançam seus desafios, cantadores de cordel contam as proezas dos cangaceiros e improvisam versos, conjuntos musicais e bandas de pífanos também são encontrados no meio da feira, aos sábados. Uma mistura de comércio, cultura e arte em celebração à cultura nordestina.

E como não poderia ficar de fora, existem barracas e restaurantes vendendo comida típica, é claro. Queijo coalho, queijo manteiga preparado com as raspas do tacho (de comer rezando - compramos quilos), manteiga de garrafa, rapadura, molhos de pimenta variados... uma infinidade tão grande de produtos que não dá pra enumerar.

O baião de Onildo Almeida (compositor local), imortalizado por Luiz Gonzaga (e que lhe rendeu seu primeiro disco de ouro), é um resumo interessante do que é a feira de Caruaru. O compositor identificou os produtos vendidos na feira que terminavam com “u” para criar rimas com Caruaru.

A feira de Caruaru
Faz gosto a gente vê
De tudo o que há no mundo
Nela tem pra vendê
Na feira de Caruaru

Tem massa de mandioca
Batata assada, tem ovo cru
Banana, laranja, manga
Batata, doce, queijo e caju
Cenoura, jabuticaba
Guiné, galinha, pato e peru
Tem bode, carneiro, porco
Se duvidá... inté cururu

Tem cesto, balaio, corda
Tamanco, gréia, tem cuêi-tatu
Tem fumo, tem tabaqueiro
Feito de chifre de boi zebu
Caneco acuvitêro
Penêra boa e mé de uruçú
Tem carça de arvorada
Que é pra matuto não andá nú

Tem rede, tem balieira
Mode minino caçá nambu
Maxixe, cebola verde
Tomate, cuento, couve e chuchu
Armoço feito nas torda
Pirão mixido que nem angú
Mubia de tamburête
Feita do tronco do mulungú 

Tem loiça, tem ferro véio
Sorvete de raspa que faz jaú
Gelada, cardo de cana
Fruta de paima e mandacaru
Bunecos de Vitalino
Que são cunhecidos inté do sul

De tudo o que há no mundo
Tem na feira de Caruaru

Alguns artesãos fabricam ali mesmo suas peças
Passamos o dia inteiro na feira. Quando não podíamos mais carregar tanto bagulho, levávamos tudo até o carro, e voltávamos para recomeçar as compras
Nem pensar em visitar a feira de Caruaru e não saborear a tradicional buchada de bode - vísceras de bode servidas picadinhas e muito bem temperadas dentro do bucho costurado do animal. Ver Nossos Vídeos
Realmente a Feira de Caruaru é um lugar único. E fazer pequenos intervalos da caminhada para tomar uma cervejinha e aliviar o cansaço... faz parte do programa

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Piranhas

Dentre todas as cidades ribeirinhas do rio São Francisco, a pequena e singela Piranhas parece saída de um filme ou cenário de novela, cercada de morros e emoldurada pelas águas do Velho Chico. Linda, linda, linda.

Distante 280km de Maceió, possui um acervo arquitetônico bem preservado no estilo barroco dos séculos 18 e 19. Caminhar por suas ruas limpíssimas, quase cenográficas, é como estar numa novela de época. A cidade serviu de cenário, inclusive, a vários filmes, como Bye, Bye, Brasil (um dos meus favoritos desde a adolescência) e Baile Perfumado.

Piranhas também foi palco de um dos maiores acontecimentos da história do país - a exposição em praça pública das cabeças de Lampião, Maria Bonita e mais 9 cangaceiros do bando do maior mito do cangaço brasileiro (1938). Boa parte dessa história está guardada no Museu do Sertão, antiga Estação Ferroviária.

No final do século 19 foi construído, no alto de um morro, um monumento para saudar o século 20. E é de lá que se tem uma vista espetacular da cidade. Passeio obrigatório!

A cidade possui como atrativos o passeio aos cânyons do São Francisco (postagem anterior), a visita à Gruta de Angicos, local do extermínio do bando de Lampião, banhos nas prainhas do rio, e trilhas por meio da caatinga, que também terminam em banho de rio.

A beleza de Piranhas é insuperável. Vale muito a pena conhecer. 

Dicas:
Pousada Lampião. Rua José Martiniano Vasco, 01, Centro Histórico, em frente ao Museu do Cangaço. (082) 3686 3335 / 8864 8408 / 9630 1805. Diária casal (quarto completo) 120,00 - em julho/2012

Ver o por-do-sol tomando uma cervejinha gelada no Restaurante Flor de Cactos, no Mirante do Sino - não tem preço!

É disso que estamos falando
Um grande marco histórico da cidade foi a construção da ferrovia, que impulsionou o desenvolvimento da região. A locomotiva em exposição num ponto central da cidade simboliza a importância que foi para Piranhas a chegada do trem
Antiga Estação Ferroviária. Hoje abriga o Museu do Sertão
O grande cantor (ou trovador) Altemar Dutra adotou Piranhas como sua cidade do coração. Em troca, a cidade lhe rendeu inúmeras homenagens. Inclusive esta estátua em uma de suas praças principais
Encontramos alguns estabelecimentos comerciais homenageando o cantor. A rodovia AL-225 também foi batizada com seu nome: Rodovia Altemar Dutra.
E a orla da cidade também...
Daqui saem os catamarãs e lanchas que levam os visitantes aos cânyons do São Francisco e à Gruta de Angicos
Este peixe (que não recordamos o nome) parece ser um símbolo de Piranhas - está presente em duas praças
E não poderia faltar, é claro, uma estátua de Padre Cícero


A noite de Piranhas é tranquila: bares com música ao vivo, serestas...


Não podíamos deixar de aproveitar
Uma imensa escadaria leva ao monumento construído para saudar o século 20. Como o sol estava de lascar, decidimos contornar e subir de carro
Com alguns altos e baixos, Piranhas possui escadarias para facilitar os acessos

Outra imensa escadaria leva os corajosos fiéis a uma igrejinha no topo de um morro, debaixo de um sol escaldante. Ato de fé ou de penitência?


Vista noturna do monumento no alto da Pedra do Sino


Os orelhões têm formato de chapéu de vaqueiro
Torre do Relógio. Segundo consta na placa da torre: "O relógio no alto desta torre determinava não só o horário da chegada e da partida do trem, mas oficializava o horário da cidade. O comércio, as igrejas, as escolas, o arribar das embarcações da beira do rio, tudo era regulado pelo horário da torre. Destacava-se, no Centro Histórico, pela sua elegância neoclássica"
Homenagem ao "herói" que executou o Capitão Virgulino Ferreira, o Lampião, juntamente com sua companheira, Maria Bonita, e mais 9 jagunços do bando do cangaceiro mais famoso do Brasil. Suas cabeças foram expostas na praça central de Piranhas e, posteriormente, em outros municípios daqui até Maceió


Um pouco da cidade vista da Pedra do Sino



A outra ponta da escadaria

Tomando uma cervejinha gelada, acompanhada de churrasquinho de carneiro no Restaurante Flor de Cactos, no Mirante do Sino


Monumento construído para saudar o século 20, na Pedra do Sino


O cemitério da cidade também fica no alto


Parte mais "moderna" da cidade, às margens do São Francisco. Abriga bares e restaurantes. Nos fins de semana rola música ao vivo, serenatas... E o visual, à noite, é pra qualquer um se apaixonar



Viaduto no centro da cidade



Visto do outro lado
Fazendo comprinhas no Centro de Artesanato, Artes e Cultura do Xingó, espaço de comercialização do artesanato e divulgação do potencial turístico dos municípios de Jatobá (PE), Poço Redondo e Poço da Folha (SE), Pão de Açúcar, Água Branca, Delmiro Gouveia e Piranhas (AL)


Nos despedindo de Piranhas, cheios de saudade. Aqui, uma paradinha rápida para comprar gelo, água, cerveja...
... e seguir viagem. Aqui, o portal de entrada e saída da cidade. Próximo destino - uma visitinha rápida à feira de Caruaru (PE), antes de pegar o caminho de volta pra casa