quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Belém

Quando fui a Belém pela primeira vez para participar de um congresso da ABA (Associação Brasileira de Antropologia), conheci somente o que chamam básico / obrigatório em minhas “fugidinhas” para saber o que a capital do Pará tinha a oferecer. Somente anos depois, em companhia de Luiz, nascido e criado em Belém, fui realmente “sentir” a cidade.

Hoje, perdi a conta de quantas vezes retornei e, a cada viagem, uma descoberta se revelava. Obviamente não iremos postar aqui todas as viagens, por acharmos cansativo aos visitantes do blog e pra lá de desnecessário. Faremos uma pequena síntese para tentar mostrar uma cidade ao mesmo tempo cabocla e cosmopolita, com lugares lindos, e que nos enlouquece com uma culinária de forte influência indígena (maravilhosa), a religiosidade popular (a maior festa religiosa do país é o Círio de Nazaré, tema de outra postagem), suas famosas mangueiras (é também conhecida como “Cidade das Mangueiras” ou “Cidade Verde”), as danças sensuais (ninguém resiste ao carimbó ou ao lundum), a cerâmica marajoara e tapajônica, as biojóias divinas.

Belém é tudo isso e muito mais. Linda e maltratada, encantadora e desorganizada, é uma cidade que não pode faltar na bagagem dos viajantes de plantão. Os brasileiros precisam “descobrir” o Brasil. O estado do Pará, internacionalmente famoso por sua lamentável violência agrária, possui uma beleza selvagem, exuberante, única, que nos enfeitiça. As ilhas de Mosqueiro, Cotijuba, Algodoal e Marajó (maior ilha fluviomarinha do planeta), as praias de águas doces ou salgadas, como Caripi (Barcarena), Salinas (Salinópolis) e Alter do Chão (o “Caribe Brasileiro”), rios imensos (não esqueçam – estamos falando aqui de Amazônia, onde qualquer adjetivo TEM QUE ESTAR no superlativo), a natureza sempre marcante, a música de origem caribenha no ar...

Me deu saudade do Pará (iso).

Com meu sogro na Estação das Docas. Espaço turístico e cultural que congrega gastronomia, cultura, moda e eventos nos 500 metros de orla fluvial do antigo porto de Belém. São 32 mil metros quadrados divididos em três armazéns e um terminal de passageiros. De lá saem barcos que fazem passeios pela orla de Belém. O primeiro armazém é o Boulevard das Artes, o segundo, o Boulevard da Gastronomia, e o terceiro é o Boulevard das Feiras e Exposições. Na Estação das Docas podemos encontrar restaurantes, bares, lanchonetes, sorveterias (não deixe nunca de provar o Sorvete Cairú) e uma cervejaria artesanal, onde tomamos uma cervejinha deliciosa enquanto, simultaneamente, assistimos sua produção. Temos ainda palcos deslizantes, onde cantores da terra tocam MPB, rock e música paraense


Estação das Docas, às margens do rio Guamá. A máquina a vapor, construída em meados de 1800, fornecia energia para os equipamentos do porto


Os guindastes externos são marcas registradas da Estação. Foram fabricados nos Estados Unidos no começo do século 20


Museu Emílio Goeldi. O museu é uma instituição de pesquisa, formação, intercâmbio e preservação de acervos científicos nas áreas de antropologia, etnologia, arqueologia, geologia, geografia, história, lingüística, botânica, zoologia e concentra suas atividades no estudo dos sistemas naturais e socioculturais da Amazônia



Foto da vitória régia, que flutua na água e pode sustentar até 40kg, se bem distribuídos por sua superfície. Quando floresce, suas pétalas são brancas ou levemente rosadas, e perfumadas


As vitórias régias são nativas da bacia do Rio Amazonas, possui folhas arredondadas que podem atingir até 2,5 m de diâmetro


Ainda no Museu


Uma das unidades físicas do museu é o Parque Zoobotânico, tombado pelo patrimônio histórico e onde está instalada sua exposição permanente


Onça pintada


As cotias andam soltas na área externa


Mangal das Garças. Parque ecológico localizado às margens do rio Guamá, no centro histórico de Belém, e é o mais novo espaço turístico da cidade. Mais de trezentas espécies de árvores nativas, lagos artificiais e o ecossistema amazônico reproduzido num espaço de 40 mil metros quadrados. Simplesmente deslumbrante


O Mangal abriga o Museu Amazônico da Navegação, Restaurante Manjar das Garças, Viveiro de Pássaros, o Farol de Belém (mirante de 47 metros de altura), Borboletário (considerado o maior do Brasil), Orquidário, Criatório e Viveiro de Plantas, o Armazém do Tempo (local de venda de artesanato, plantas, livros e cd’s de artistas paraenses + serviço de café)


Mamãe fez absoluta questão de entrar na Basílica de Nazaré


Fazendo compras na feira de artesanato da Praça da República, que acontece todos os domingos, chova ou faça sol. Aliás, a "chuva da tarde" é lendária. As pessoas marcam compromissos para "antes da chuva" ou "depois da chuva"


O pai e a madrasta de Luiz sendo anfitriões dos meus pais no Mercado Ver-o-Peso


Quem vai a Belém não pode deixar de conhecer o famoso Mercado Ver-o-Peso, ao lado do Forte do Castelo. O Ver-o-Peso é, sem dúvida, o símbolo de Belém por excelência. Há mais de três séculos se comercializam frutas, verduras, peixes, farinhas e ervas. É o encontro do passado e o presente. Na foto, papai no Ver-o-Peso tendo ao fundo o espaço onde se comercializam peixes e camarões


Outro ângulo do Ver-o-Peso. Não dá pra deixar de saborear um peixe frito com uma cervejinha gelada, ou almoçar uma maniçoba nas inúmeras barracas do mercado. Eu recomendo


Me esbaldando no Ver-o-peso: comendo maniçoba com pimenta e farinha suruí


Ver-o-Rio. Uma parte da orla resgatada depois de anos de ocupação inadequada e devolveu o caráter ribeirinho de Belém, além do direito da população de conviver com o rio. No espaço existe um memorial em homenagem aos povos negros e indígenas, e um navio-restaurante, onde podemos assistir ao belíssimo entardecer da Baía de Guajará


Memorial dos Povos Indígenas, Ver-o-rio


Solitário guará no Ver-o-rio. Encontramos guarás em vários lugares da cidade


Bar do Murilo, no tradicional bairro Jurunas, quase na esquina da casa do pai de Luiz. Frequentador antigo e assíduo, seu Correia é chamado de pai pelo dono do bar, o querido amigo Murilo (na foto de camisa mostarda)


Uma das inúmeras e lindas praças de Belém


Garças, periquitos e outros pássaros passeiam tranquilamente pelas praças


Os coretos das praças são uma atração à parte. Aqui, Praça Batista Campos


Icoaraci. A 25 km de Belém, a vila é o maior centro de produção e comercialização de cerâmicas marajoara e tapajônica. Inclusive mais barato. Parada obrigatória é a Orla do Cruzeiro, onde encontramos diversos restaurantes especializados em frutos do mar (existe um peixe de nome Filhote que é TUDO!), barraquinhas de comidas típicas (vatapá, tacacá, dentre outras), venda de cerâmica e a praia do Cruzeiro. Vale a pena caminhar pela orla no final da tarde e apreciar o por do sol.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Turistas e Viajantes?

“Viajando” por entre os muitos blogs de viagens deparamo-nos com uma discussão interessante – somos divididos em turistas e viajantes. Dando um brevíssimo tempo das postagens de viagens (razão da existência de nosso blog) decidimos publicar aqui alguns artigos que achamos relevantes para fazermos uma reflexão – afinal, somos turistas ou viajantes? Ou ainda – existe realmente tal divisão? 

Acompanhe conosco esse curioso debate e tire suas conclusões. Boa leitura.



VIAJANTE x TURISTA

Viajantes são aqueles garotos ou garotas, às vezes com mais de 40 ou 50 anos, que encontramos nas estações de trem da França, nas ruas da Califórnia, nas trilhas do Peru, em viagens de barco pela Tailândia e até no calçadão de Copacabana. O traje: um boné na cabeça, uma camiseta qualquer, uma bermuda ou calça indiana – ou uma fantasia de urso no inverno – mais um guia de viagens (o Guia O Viajante, claro...) embaixo do braço e uma boa mochila nas costas.

Você que é viajante pode até não querer viajar de mochila, e seus pais ou seu marido ou sua filha até podem achar a imagem de um backpacker, ou mochileiro, um pouco radical (que erro lamentável...), mas você também não quer ser um mero turista, viajando em excursões.

E como são os turistas? Camiseta floreada básica, uma mala carregada por um marido mala, uma esposa atrapalhada...

Calma! Esses clichês são apenas uma gozação! Talvez tenha um fundo de verdade, mas não deixa de ser uma brincadeira (lembre-se do mandamento do bom humor!!!).

E como o politicamente correto é às vezes muito chato, eis aqui 10 pré-conceituadas diferenças entre turistas e viajantes. E aos patrulhadores de plantão: combata o preconceito em coisas mais sérias – e seja politicamente correto no que realmente for importante.

1) A liberdade
Viajantes - são livres.
Turistas - são livres – no dia livre, das atividades livres.

2) O motivo
Turistas - têm um destino: siga o roteiro.
Viajantes - têm um objetivo: siga viagem.

3) A viagem
Viajantes - fazem da Europa uma viagem maravilhosa.
Turistas - fazem a viagem "Europa Maravilhosa".

4) A grana
Turistas - não necessariamente viajam com muito dinheiro, mas pelo menos viajam com dinheiro.
Viajantes - não necessariamente viajam com dinheiro; às vezes, viajam com a criatividade.

5) O legado
Viajantes - absorvem o povo.
Turistas - absorvem o shopping.

6) As cidades
Turistas - vão de uma cidade à outra.
Viajantes - percorrem de uma cidade à outra.

7) A língua
Viajantes - num país estrangeiro, perguntam algo como: "Where is the church?"
Turistas - num país estrangeiro, gritam algo como: I-GRE-JÁ! ON-DE FI-CA A I-GRE-JÁ!?

8) A comunicação
Turistas - num restaurante onde não falam o idioma, se não conseguem pedir um frango com batatas, pedem um bife com cebolas.
Viajantes - num restaurante onde não falam o idioma, se não conseguem pedir um frango com batatas, imitam um frango com batatas.

9) A busca
Viajantes - querem encontrar outros viajantes.
Turistas - querem encontrar um carregador de malas.

10) A crítica
Viajantes - são quase sempre criativos e já estão pensando em novas diferenças entre viajantes x turistas.
Turistas - às vezes são reclamões e já estão pensando do que nos xingar após as piadas de turistas x viajantes.

Você também não é tão politicamente correto e tem seus pré-conceitos com os turistas? Vamos lá, brinque e compartilhe-os!

Até mais viajante (tá bom, turista também)!

VIAJANTES CONTRA TURISTAS

Quem foi que disse que uns são melhores que outros? Desde quando fazer um city tour virou questão de classe?

Em minha primeira viagem a Londres, briguei com minha namorada porque ela insistia em tomar um ônibus de dois andares para conhecer a cidade. Coisa mais brega. Que graça pode ter entrar num monstro desses com um monte de gente estranha e um sujeito falando do Palácio de Buckingham e da rainha no microfone?

Eu estava errado. City tours são ótimos. Fazer turismo é ótimo. 

Tem gente que acredita que ser "viajante" é melhor que ser "turista". Os primeiros são, basicamente, descolados, cidadãos do mundo, cosmopolitas, bonitos, espertos. Não viajam de pacote, falam 37 línguas, odeiam o McDonald's e conhecem todos os lugarzinhos de todas as cidades (aquele insuportável lugarzinho que ninguém conhece. Quanto mais um Mané como você). Os segundos são pessoas fracas. Dependentes. Tristes. Sempre com uma câmera na mão e nenhuma ideia na cabeça. 

De onde vem essa bobagem? De uns tempos para cá, o termo "turístico" ganhou uma conotação pejorativa. No mês passado, fiz um programa turístico. Visitei a Feira de San Telmo, em Buenos Aires. Feira de San Telmo ("Viiixe!", dizem os "viajantes") em Buenos Aires ("Credo!!!"). Se eu tivesse ouvido meus amigos modernos e superviajados, jamais poria os pés ali. E me arrependeria. Porque é fantástico. É organizado, limpo, bonito e, sim, repleto de turistas. Turistas curiosos, de várias partes do mundo, gastando dinheiro, tirando foto, se divertindo. 

Uma viagem legal para qualquer parte do planeta inclui, inevitavelmente, coisas que já se tornaram populares - o que não significa que sejam piores ou melhores. É preciso ir, ao menos uma vez, ao Cristo Redentor e posar para a clássica "foto-prato". Ir a Paris e subir a Torre Eiffel. Assistir ao ensaio do Olodum. Andar de bonde em San Francisco. Mergulhar em Porto de Galinhas. Andar de carruagem no Central Park. Tirar uma foto com um centurião cafajeste italiano em frente ao Coliseu. Rir de si mesmo.

Claro que existem armadilhas. Muitos daqueles locais com filas na porta podem não ser inesquecíveis. Uma experiência de viagem genuína deve incluir, sem dúvida, a independência do viajante e sua capacidade de improvisar e sair do óbvio. Mas isso não fará uma jornada obrigatoriamente grandiosa. E aquele "turista" tirando retrato do Taj Mahal, durante o pôr-do-sol, pode ter uma experiência mais enriquecedora que a do "viajante" metido nesse trem no Vietnã. Sem contar que a foto, com certeza, sairá mais bonita. 

TURISTA OU VIAJANTE? VIDA DE EQUILIBRISTA
Por: Maggi Krause

Repare bem na foto deste post. Foi tirada durante uma longa caminhada pelas montanhas ao redor do Gorges du Verdon, um dos maiores cânions da Europa. Na nossa viagem ao sul da França, sonho acalentado (e poupado, em $$ mesmo) por anos, tentamos nos distanciar mais do perfil turista e nos aproximar do de viajante. Explico: turista é quem visita com pressa, tira fotos mas não degusta, não permanece… Viajante é quem privilegia a experiência, vive, curte a cultura local. Claro que  nossas férias alternaram os dois, pois o bolso ainda não nos permite ser só viajantes. Mas tenho uma colega que programa viagens mais rápidas, por cinco dias, de bicicleta… quer melhor maneira de aliar exercício, descanso, boa comida e um turismo empenhado em mostrar o modo de vida do lugar?

Nessa linha de saborear, a mesma que originou o slow food (com início na Itália), está surgindo o slow travel, ou turismo sem pressa. É uma altenativa ao turismo de massa, afobado, que não satisfaz. Claro que também é uma resposta ao corre-corre diário. Para que eu vou correr de museu em museu ou de cidade em cidade durante as férias se meu ritmo já é estressante normalmente?

A revista Época desta semana traz interessante reportagem sobre o assunto e me chamou a atenção porque parece ser o tipo de experiência de tempo valorizado ao extremo. “A melhor maneira de conhecer um país é a pé. Quanto mais devagar você viaja, mas tempo terá para degustar a jornada”, afirmou Christopher Whinney, fundador de uma operadora de turismo inglesa especializada em roteiros pela Toscana. “Essa maneira de descobrir o mundo permite uma vivência inesquecível”, acrescentou o inglês. Com certeza guardo forte na lembrança este dia em que largamos o carro de lado para respirar o ar puro da montanha e apreciar a natureza nesta trilha entre dois vilarejos na Provence. Abrimos essa brecha necessária na agenda da viagem e nem que seja preciso esperar uns meses a mais e salvar alguns dólares… recomendo o slow turism a todos! Au revoir!

NÃO SOU TURISTA, SOU VIAJANTE


O estereótipo do turista é bem conhecido e reproduzido. Um sujeito estabanado cheio de apetrechos fúteis, de camisa colorida, conduzindo a família inteira por pontos turísticos abarrotados de outros turistas fotografando tudo e comprando muito. Eles obedecem ao toque de recolher do guia e geralmente um de cada grupo passa mal com uma comida típica.

E o estereótipo do viajante? Assumindo, já ,que existe sim essa distinção, qual seria? Na boca da maioria, uma personagem nos conformes de um viajante é aquele com mochila nas costas, que carrega só o útil e que não passa de um lugar para outro, mas os percorre procurando absorver cada passo da viagem. Aliás, esta figura jamais será vista numa fila, onde os turistas habitam, mas em locais pouco convencionais, gastando pouco, pois pesquisou e planejou a viagem toda, sozinho, sem guias ou agências.

Mas pra mim o problema aqui é puramente semântico e recente; de repente Turista virou xingamento. No Orkut existem várias comunidades do tipo, Viajante sempre, turista nunca. Ai daquele que chamar um Mochileiro de Turista! Algo que me lembra quando um rapaz robusto e barbudo me corrigiu: Motoqueiro é motoboy que anda de CG! Eu sou é motociclista! Desculpa amigo, mas a CG também é moto. E o turista também viaja. Ou não? E o viajante, não turisteia? Dá pra vender pacote turístico pra um viajante? Um sujeito muquirana que prefere albergues, mas quer sim ver a Mona Lisa lá de longe, esperando duas horas na fila do Louvre é um híbrido?

Recentemente a MasterCard Lançou uma campanha com o Viajante MasterCard. Vejam bem, ele não é um turista, seu nome é viajante, seu jingle e seu vídeo pregam a aventura e o inesperado das viagens. No entanto ele anda sempre com seu cartão de crédito, que seria nestas novas conotações, um amuleto do turista! Aquele que tudo compra.

Como seria o Turista MasterCard? Na minha opinião seria a mesma coisa. Nem melhor nem pior. O comportamento em viagens está associado à personalidade de cada pessoa, independente se ela prefere conhecer aldeias na Argélia ou realmente ficar na fila do Louvre. Ficar inventando terminologias pra comportamentos distintos não pega bem, principalmente pra essa indústria (do turismo!), onde o Brasil opera com uma capacidade ociosa gigantesca. Ficamos assim então: O Turista é aquele que viaja. E como tudo na vida, existem bons e maus turistas.

Boa viagem, caro turista.

TURISTAS & VIAJANTES
Mari Campos

Todo mundo tem um estilo diferente de viajar. Uns gostam mais de museus, outros mais de caminhadas, outros até mais das compras que da viagem em si. Mas seja qual for o seu tipo, nada costuma ser tão atraente numa viagem quanto a heterogeneidade.

Se muitos dizem que viajar por si só enriquece o espírito e a cultura, perceber de fato povos, culturas, costumes, religiosidades, comidas torna-se ainda mais interessante devido à heterogeneidade dos destinos. Observar com sensibilidade outros países, povos e cidades no seu dia-a-dia aumenta nossos horizontes e nossa assimilação para o “diferente” é cada vez maior. O bom planejamento de viagem permite que essa assimilação comece antes mesmo do embarque, através do conhecimento prévio sobre a cultura e a história do destino a ser visitado.

Todo viajante começa sua carreira como turista. Sim, turista e viajante são duas categorias muito diferentes! O turista é ansioso, ele acha que férias também são sinônomo de escravidão já que ele TEM que conhecer Paris, TEM que visitar todos os museus de Londres, TEM que pegar a fila para a Capela Sistina, TEM que percorrer diariamente e incansavelmente todos os cartões postais da cidade que ele visita. Volta cansado, coitado, precisando de férias. Mas toda primeira viagem, em início da carreira-de-viajante, é assim, não é mesmo?

Com o tempo podemos evoluir para viajantes de fato. Sim, podemos. Porque nem todo mundo consegue. Tem muita gente cujo mapa-alvo de destinos no mundo a conhecer se resume a Miami-Nova York-Paris. E se você diz que quer conhecer a Tailândia ou a Tunísia te olha incrédulo e diz: “Nossa, mas o que você quer fazer lá? Aliás, onde é que fica mesmo????”. Calma, calma. Começo de carreira é assim mesmo. Tem viajante que atinge o topo da carreira com duas viagens. Outros só no final da vida.

Dentro de cada viajante (e até dentro de cada turista, sim), há dezenas, centenas ou até milhares de pequenas viagens-embrião, com destinos e propósitos diferentes, todas elas esperando ansiosamente a chance de tornarem-se, de fato, viagens. A maioria delas se concretiza quando há um ajuste perfeito intersecção de preferências, tempo e dinheiro disponíveis. No princípio da vida viajante (que pode comecer aos 2 meses de idade ou aos 90 anos, não importa), a maioria das pessoas quer visitar alguns lugares para poder dizer que esteve lá, “Ah, sim, já estive em Paris” ou poder travar conversar como “Quando eu estive em Madri...”.

À medida que nos tornamos verdadeiramente viajantes – e não mais turistas – nossos propósitos com as viagens tendem a mudar. Nada melhor do que revisitar um destino sem a “obrigação” de conhecer seus pontos turísticos; permitir-se simplesmente perder-se sem rumo naquela cidade. Ou dar-se ao luxo de programar viagens para destinos que nem estão no mapa-alvo da maioria das pessoas que você conhece mas que sempre estiveram no seu. Ou que antes não estavam, mas de repente você se vê pensando neles insistentemente. São as viagens que você quer fazer, por você. Sem dúvida, as melhores viagens possíveis.

TURISTAS OU VIAJANTES?

Mr. Miles, o homem mais viajado do mundo - O Estado de S.Paulo

No mês de agosto, quando, em suas palavras, "hordas de turistas do Hemisfério Norte movimentam-se como gafanhotos de praga bíblica rumo às ilhas e praias do mar que um dia Júlio César chamou de nostrum", mr. Miles costuma desaparecer. Dessa vez, nosso viajante escapou, por estradas secundárias e embarcações suspeitas, rumo às remotas Ilhas Shetland, onde está observando, prazerosamente, os pássaros de uma reserva chamada Sumburgh Head.

A seguir, ele responde à pergunta da semana:
Mr. Miles: qual é, na sua opinião, a diferença entre o turista e o viajante, se é que ela existe? (Maria Helena Splendora, por e-mail)

"Well, my dear: não é a primeira vez que me fazem essa pergunta. E, para começar a respondê-la, vou recorrer a frases de dois bons velhos amigos meus. O escritor chinês Lin Yutang, autor de A Importância de Viver, era um turista e dizia: 'Ninguém pode compreender a beleza de viajar antes de voltar para casa e repousar sua cabeça em seu velho e familiar travesseiro'.

Jawaharial Nehru, famoso estadista hindu, however, era um viajante e sentenciava: 'Vivemos em um mundo maravilhoso, cheio de beleza, charme e aventura. E não há fim para as aventuras que se pode viver. Basta apenas manter os olhos abertos'.

São concepções muito diferentes. Entretanto, é perfeitamente possível encontrar um turista e um viajante caminhando, side by side, por exemplo, na Place du Safranier, em Antibes, e não saber como distinguir um do outro. Ambos costumam parecer estrangeiros, portam, geralmente, máquinas fotográficas e carregam guias em uma das mãos. Não se engane nesse aspecto, by the way. Um estrangeiro que se movimenta com naturalidade pelas ruelas de uma cidade tanto pode ser um viajante experimentado como um turista que volte sempre ao mesmo lugar, talvez para dar uso à sua casa de veraneio.

Há que se discernir, inicialmente, o comportamento que os norteia. Turistas, usually, viajam de férias. Viajantes de verdade, in the other hand, preferem as férias para voltar, rever os parentes, guardar os tesouros e partir novamente.

Turistas têm tempo e necessidade de descansar. Viajantes são incansáveis e repousam apenas quando o corpo lhes pede - ou quando as circunstâncias facilitam.

A prezada leitora poderá supor, por essas simplificações, que este velho peregrino encaminha-se para colocar o turista em um patamar inferior ao do viajante. Permita-me, however, tentar corrigir essa distorção. Viajores compulsivos são, em sua essência, seres fugazes como andorinhas. É muito fácil se encantar com eles, but it's even easier se decepcionar com seu desapego cruel a situações permanentes. Assim como se encantam com os lugares e os deixam em seguida, fazem o mesmo com as pessoas. 

Turistas, of course, têm padrões mais aceitáveis de convivência. Sua bagagem pode não ser tão grande, mas, pelo menos, ela sempre volta. 

O turista sempre sabe onde é a sua casa. O viajante, as I do, tem a pretensão arrogante de considerar cada pedaço do planeta como uma extensão de seu backyard

Somos, as you see, tipos muito diferentes. Mas, anyway, temos algo em comum. Em algum momento, em algum lugar, teremos a oportunidade de estar caminhando lado a lado. Talvez em Antibes, na Place du Safranier. E, nesse instante, com ambos provando da mesma felicidade, ninguém saberá nos distinguir." 

*Mr. Miles é o homem mais viajado do mundo. Ele já esteve em 132 países e 7 territórios ultramarinos