segunda-feira, 18 de julho de 2011

Festas Juninas

O festejo junino de São Luís é – modéstia às favas e sem sombra de dúvida – o melhor do Brasil. Não queremos de modo algum desqualificar ou menosprezar outros tantos conhecidos nacionalmente. Mas a festa em São Luís é diferente de qualquer outro lugar do nordeste. Na dúvida, é só vir conferir. A surpresa, assim como a beleza e o encantamento, são uma espécie de garantia dos brincantes que fazem a festa no Maranhão.

Além das Quadrilhas, shows e do forró pé-de-serra, temos também o Tambor de Crioula, o Cacuriá, a Dança de São Gonçalo, Dança do Lelê, Dança do Coco, Dança Portuguesa, Dança do Boiadeiro, somente para citar algumas. E temos o que poderíamos chamar de "a grande estrela" do mês de junho no Maranhão – o Bumba-meu-boi.

Apresentado e ovacionado em 4 diferentes sotaques – matraca, zabumba, costa de mão e orquestra – o bumba-meu-boi mistura tradição, devoção, paixão, dentre outros sentimentos que se expressam na forma de espetáculo.

E que espetáculo! Durante todo o mês de junho a ilha se transforma. São inúmeros arraiais espalhados por toda a cidade, festas de domingo a domingo, sem trégua, nem cansaço (ou descanso). Pelo contrário. A energia que certamente emana do próprio Boi mantém todos de pé, brincando e dançando até o dia amanhecer.

O dia de São Pedro foi decretado feriado. Amanhecer no Largo de São Pedro é uma tradição de fé - todos os bois de matraca, zabumba e costa de mão sobem as escadarias da capela de São Pedro pra pedir a bênção e a proteção do santo. O dia de São João é dedicado às fogueiras – dezenas são acesas em vários bairros, por tradição ou por pagamento de promessa. E o maranhense é tão apaixonado pelo bumba-meu-boi que comemora um santo a mais em sua honra – São Marçal, que ganhou uma avenida com seu nome, e é um dia marcado por apresentações dos mesmos Bois abençoados por São Pedro no dia anterior, numa festa única que começa nas primeiras horas da manhã e se estende até a madrugada, no bairro do João Paulo.

Escrever sobre o Boi renderia páginas e páginas inspiradas e emocionadas. É difícil resumir tudo o que o Boi significa, o que representa, tudo o que ele é numa única postagem de blog. Mas posso tentar dizer o que sinto com uma única palavra – orgulho.
 





Boi de orquestra se apresentando em um dos inúmeros arraiais da cidade. Aqui, o Arraial da Praça Maria Aragão, localizado à beira-mar




O forró pé-de-serra rola a noite toda, todas as noites, paralelamente às apresentações de bois, quadrilhas e as mais variadas danças. E salve o forrozeiro Inaldo Bartolomeu!





Caboclo de Pena, um dos personagens do boi de matraca. Aqui, um brincante do Boi de Ribamar




Apresentação do Boi da Maioba no Arraial da Liga dos Cantadores de Boi do Maranhão, localizado na Lagoa da Jansen





As índias do Boi, maravilhosas





Apresentação do Boi de Guimarães, sotaque de zabumba (ou da baixada)



Apresentação do Boi de Morros, um dos mais famosos bois de sotaque de orquestra, característico do interior do Maranhão, região do Rio Munim





Pequena expectadora "vidrada" nas apresentações dos Bois





A paixão pelo Boi começa desde criança




Desde criancinha MESMO



Fogueira móvel???



É pra esquentar os pandeirões

Cazumbás. São os espíritos da mata que "ressuscitam" o boi. Para quem não conhece a história, Pai Francisco, vaqueiro da fazenda, é obrigado a matar o boi do patrão para satisfazer a mulher, Catirina, grávida, que deseja comer a língua do boi. Quer saber o final da história? Só se vier a São Luís em junho





Outro personagem - a burrinha



Boi da Maioba, sotaque de matraca (característico da ilha de São Luís) comemorando 114 anos. Esse "batalhão" - denominação dos bois de matraca - consegue arrastar cerca de 5 mil pessoas. É de arrepiar




Boi de Sonhos, sotaque de orquestra. Atualmente, dezenas de bois desse sotaque estão "nascendo" em São Luís. Alguns juram que existem há séculos





O "couro" do boi é ricamente bordado à mão. Cada um mais lindo




Madrugada no Largo de São Pedro. Não importava a posição - pra onde se olhava era gente a perder de vista




Amanhece no Largo de São Pedro. Repetindo - não importava a posição, pra onde se olhava era gente a perder de vista




O sol já estava alto e eu continuo repetindo - pra onde quer que o nariz apontava, era gente a perder de vista












E continuam chegando os ônibus com os bois




Tem jeito não, ninguém arreda. Ao contrário. A cada hora chegava mais gente. E era gente a perder de vista


Imagem de São Pedro, que vai descer as escadarias nos ombros dos fiéis e partir de barco, em procissão (é o santo protetor dos pescadores), sob fogos e buzinas, Mesmo para  quem não é religioso (como nós), é um espetáculo emocionante

       





Os Bois sobem a escadaria, se apresentam dentro da capela e pedem a bênção a São Pedro









Pagamento de promessa. Vimos inúmeras. Muito emocionada, entreguei a máquina fotográfica a Luiz. Encostei num batente e fiquei apenas observando. Não sei se foi a fé no santo ou a devoção ao boi, mas as manifestações de adoração a qualquer um dos dois me fez chorar. E chorei sem vergonha, nas escadarias de São Pedro







Os brincantes que tocam as matracas parecem entrar em transe
Dentro da capela de São Pedro. Batendo matraca, meu ex-professor, ex-orientador (de pesquisa e de monitoria), ex-carrasco, ex-pai na universidade, ex-mestre, ex-pentelho. E por tudo isso, meu eterno, inesquecível e pra sempre querido, amado, idolatrado, salve, salve prof. Sérgio Ferretti





A subida até a bênção de São Pedro









"E essa herança foi deixada por nossos avós e hoje cultivada por nós pra compor tua história, Maranhão" (trecho de toada do Boi de Maracanã, sotaque de matraca)