quinta-feira, 28 de junho de 2012

Chapada Diamantina parte V - Igatú

Finalizando as postagens de nossa expedição pela Chapada Diamantina, vamos registrar agora a cidadezinha considerada a versão brasileira de Macchu Picchu – a pitoresca Igatú.

Antiga Xique-Xique do Igatú, a cidade surgiu no apogeu do Ciclo do Diamante (meados do século XIX) e serviu como base para garimpeiros, comerciantes e viajantes, sendo um dos primeiros núcleos de garimpeiros da região, chegando a abrigar cerca de 6 mil pessoas. Hoje, a cidade possui aproximadamente 400 habitantes.

A pequena cidade fica a 13km de Andaraí, também na Serra do Sincorá, a 800m de altitude, e é toda construída de pedra: casas, jardins, passeios e muros.

Chega-se a Igatu por uma estrada de 7km toda pavimentada de pedra, chamada Calçada de Igatú. As ruínas das antigas casas de garimpeiros impressionam os visitantes logo na entrada.

Com o declínio da economia a cidade foi abandonada. Garimpeiros chegaram a destruir ruas inteiras em busca dos últimos diamantes e sua área urbana transformou-se em ruínas, o que lhe rendeu o apelido de Cidade Fantasma. Soubemos de histórias de pessoas que utilizavam picaretas dentro de suas casas em busca de diamantes, transformando tudo em escombros. Quando estivemos lá, inclusive, podíamos ouvir ao longe os estrondos de dinamites abrindo caminho para a procura da pedra valiosa.

Os atuais moradores vivem em uma pequena vila, ao lado da antiga cidade. A vila já dispõe de alguma infra-estrutura, como pousada e restaurante. Nos áureos tempos, Igatú possuía cabarés, cassinos, lojas diversas, cartório, cinema, etc. Hoje, a cidade não possui nem farmácia.

Para quem visita a Chapada Diamantina, conhecer "nossa Macchu Picchu" é uma excelente pedida. Fica nossa sugestão.




Calçada de Igatú, 7km de estrada de pedra que nos leva à cidade de pedras








































Igreja de São Sebastião. O início de sua construção data de 1854, e é toda feita de pedras. Consta que um garimpeiro de nome Elviro erigiu a igreja como forma de pagamento de promessa ao santo, após ter encontrado uma imensa pedra de diamante. A igreja foi construída de frente para o garimpo de Elviro










Rua que separa a Cidade Fantasma ou Macchu Picchu brasileira, da vila onde moram atualmente os que não abandonaram a cidade






Ficamos com a sensação de estar em Bedrock, e a qualquer momento cruzar com os Flintstones. Lembramos até dos engenhosos e engraçadíssimos utensílios domésticos do desenho animado








Parte mais "nova" de Igatú













Museu Galeria Arte e História. O museu conta a história da cidade através de documentos, utensílios e ferramentas de trabalho, desde a origem da vila, seu apogeu e declínio









Criado em meio às ruínas da cidade e a céu aberto, o museu impressiona pela história contada e também por suas inusitadas instalações. Possui ainda loja de artesanato e um café








Achamos interessante este lagarto todo feito de garrafas pet, no muro de uma pousada







Bar do Guina, ex-garimpeiro que não se deu tão mal quanto tantos outros. Alguns ex-garimpeiros hoje passam até fome. Não souberam investir o dinheiro ganho com o garimpo. E segundo dizem, o dinheiro não foi pouco. Alguns moram em cavernas










No bar do Guina, tomando cachaça da terra e ouvindo a história e as incríveis histórias de Igatú
























Vista de uma parte das ruínas sendo engolida pelo mato









Conhecer uma cidade de pedras com uma história tão impressionante foi um dos pontos altos de nossa Expedição Chapada Diamantina

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Chapada Diamantina parte IV - Andaraí / Iraquara

A Chapada Diamantina é realmente um oásis no meio do sertão nordestino. Entre as pequenas e simpáticas cidades encontramos uma variedade de impressionantes atrativos naturais. Dentre eles, destacamos agora uma de nossas grandes paixões – as grutas e as cavernas. Nesta postagem, reunimos as 2 cidades com o maior número de grutas e cavernas da Chapada – Andaraí e Iraquara, e também seus arredores.

Definimos a cidade de Andaraí como local de pouso e de lá partíamos, diariamente, para visitar as belíssimas cavernas da região. Localizada no sopé da Serra do Sincorá, Andaraí era habitada por índios cariris e por escravos fugitivos, mas foi o garimpo que realmente marcou a sua história – no final do século XIX o município foi reconhecido enquanto estaria sendo ocupado por aventureiros vindos de várias regiões em busca do diamante.

O Vale do Pati é um dos maiores e mais belos roteiros de trekking do Brasil, também considerado um dos melhores do mundo. A travessia pode durar de 3 a 6 dias. Infelizmente não pudemos fazê-lo – o tempo de permanência na Chapada Diamantina foi mal calculado por nós. Pretendemos retornar e fazer o trekking do Pati e também o do Vale do Capão, rumo à cachoeira da Fumaça (3 dias).

Com a maior concentração de cavernas da Chapada, a cidade de Iraquara iniciou sua história há mais de 12 mil anos, quando por ali passaram muitos povos pré-históricos, nômades das mais variadas regiões, e deixaram a marca de sua presença em pinturas rupestres, fósseis e registros arqueológicos encontrados nas grutas e abrigos.

Iraquara possui o maior acervo espeleológico da América do Sul. Dentre as diversas grutas, podemos destacar a Gruta da Torrinha, Gruta Azul, Lapa Doce (27km mapeados de rochas de cerca de 900 milhões de anos, é uma das maiores cavernas do Brasil; é possível caminhar por 850 metros de galerias decoradas por sedimentos que lembram figuras místicas, animais e partes do corpo humano. A visão da entrada da caverna é impressionante), Lapa do Sol (uma extensão da Lapa Doce e tem a entrada decorada pelo homem pré-histórico – as pinturas datam de um período entre 12 mil e 30 mil anos), Gruta da Fumaça e Gruta Manoel Iô Iô. Todas de tirar o fôlego. O mergulho dentro de poços no interior de algumas cavernas é obrigatório. Assustadoramente lindo.  

A impressionante Gruta da Torrinha apresenta muitas curiosidades geológicas e formações raras, como as agulhas de gypsita de 60cm, as flores de aragonita (semelhante a flores de vidro, de tamanho inusitado), a estalactite de cristal transparente (única no mundo). Num labirinto de corredores acidentados, onde o visitante caminha agachado em alguns momentos, a caverna vai se revelando aos poucos, na forma de curiosas estalactites e estalagmites (pedras calcárias recristalizadas a partir de goteiras na gruta). A Passagem da Francesa, estreita fenda descoberta por uma pesquisadora européia, prolongou a caverna em mais 13km. O Salão das Flores possui formações de cristais únicas em todo o mundo.

Gente, contando assim não dá nem pra imaginar o que nós vimos ali. Existem lugares que somente ao vivo e em cores conseguimos entender as perplexidades descritas.

Dicas:

Em Andaraí – Pousada Eden. Rua Santa Bárbara, s/n, centro. Contato (75) 3335 2173

Bar e Restaurante Tá Lento, ao lado da pousada. Proprietária: Rita.

Lapidação de Diamante. Rua 2 de Julho, s/n, centro. Contato (75) 3335 2480. Lapidador Antônio Neiva. Não podíamos visitar a região responsável pela maior produção de diamantes das Américas sem levar um exemplar da pedra símbolo da Chapada Diamantina.

Tente passar em Andaraí numa segunda-feira, dia de feira livre – os personagens e as barracas são uma atração à parte.



Quando é que Luiz deixaria de tirar esta foto?














Pracinha em frente à pousada onde nos hospedamos






































Estátua de garimpeiro no centro da cidade. Foi o garimpo que impulsionou a economia e elevou o pequeno povoado à categoria de município








Igrejinha encravada nas pedras












Área de convivência dos hóspedes da Pousada Ecológica, onde almoçamos um delicioso tucunaré








O rio Paraguaçú nos oferece praias deliciosas e lindas












Barzinho e lanchonete de apoio próximo à entrada da caverna do Poço Encantado
























Entrada da caverna do Poço Encantado, em Itaetê. Tendo que nos segurar em cordas para descer, não foi possível fotografar o caminho até o Poço









O Poço Encantado recebe a luz do sol através de uma fenda nas pedras, e esse filete de luz deixa suas águas profundas (60 metros) em tons azul turquesa







Obra-prima da natureza, não é permitido o banho em suas águas incrivelmente límpidas. O silêncio na escuridão da caverna adornada de azul é de deixar qualquer um emocionado












A caminho do Poço Azul, em Nova Redenção










Uma infinidade de borboletas amarelas apresentam um verdadeiro espetáculo aos visitantes











Luiz e nosso guia, Malhado











Mergulhar nas águas deliciosas do Poço Azul - não tem preço!












Temos as opções de mergulho e de flutuação. Fizemos os dois, claro





















O espetáculo da luz solar invadindo o lugar entre as pedras, o que facilitou a visualização das partes submersas da caverna









Não existe sensação de paz maior do que mergulhar nas águas refrescantes do interior de uma caverna









O Poço Azul é o único sítio paleontológico do Brasil. Nele, pesquisadores encontraram carcaças de 35 espécies de animais pré-históricos. Dentre eles, uma preguiça-gigante





































Estrutura construída no interior da caverna para facilitar o passeio. E que passeio! Valeu a pena








Bar e restaurante próximo à entrada do Poço Azul. Aqui, as proprietárias, Alice e Zenaide, que fazem uma iguaria típica da região, o Cortadinho de Palma - dos deuses!










Cachoeira da Donana











A Cachoeira da Donana possui uns lajedos que permitem escorregar por suas águas geladinhas

























Barzinho da Célia, ao lado da Cachoeira da Donana





Célia conheceu a Chapada Diamantina quando ainda morava em São Paulo, e prometeu a si mesma que iria voltar. Alguns anos depois, mudou-se de mala e cuia para esse paraíso e colocou este barzinho que serve de apoio aos banhistas da cachoeira. Arrependida? Só de não ter vindo antes






Adoramos esta pequena estante do restaurante Sabor e Arte, próximo à Toca do Morcego, lojinha de artesanato que, a propósito, vale uma visitinha









Entrada da Caverna Torrinha












Dentro da caverna nos deparamos com a "face de Cristo" esculpida pela própria natureza














Fizemos uma espetacular caminhada, e descemos 75 metros abaixo da superfície. Indescritível












Precisa comentar?













Tirei o capacete somente para tirar foto. O uso de capacete e lanterna é obrigatório, e são fornecidos pelo guia após pagamento de pequena taxa de manutenção

















































































As fotos não conseguem mostrar a verdadeira beleza das estalactites da Torrinha






















Sala dos Vulcões














Flor de aragonita. Raríssima. Segundo os estudiosos, só existe aqui



























Impressionante réplica do Morro do Pai Inácio








Saída da caverna. Depois de tanto tempo sem iluminação natural (luz, somente das lanternas), sentimos um certo incômodo na vista quando saímos




















Na saída da impressionante caverna Torrinha, saborear o inigualável risole de carne de D. Aidil











Gruta Azul. Uma refração solar invade a gruta, cortando a água em uma extensa e profunda faixa de luz azul. Melhor horário para apreciar o fenômeno é entre 14h e 15h








Parece que não está lá, mas atrás de mim é tudo água. A Gruta Azul abriga um laguinho de 17 metros de profundidade, tão límpido e sereno que custamos a acreditar que ele está ali de verdade










Caverna Pratinha, onde podemos mergulhar entre peixinhos coloridos, fazer flutuação e tirolesa







O banho da Pratinha é surreal, pois mergulhamos numa caverna de águas cristalinas repleta de peixes de várias cores



O maravilhoso Rio Pratinha, tão transparente que possui visibilidade em torno de 60 metros. Biólogos já identificaram 32 espécies de peixes em suas águas, 6 delas ainda desconhecidas pela ciência. Além de peixes, podemos ver também tartarugas de água doce